"O “namoro” da Biblioteca Municipal de Beja com Bartolomeu Campos Queirós tem quase cinco anos e começou, sem que ele o soubesse, no dia em que o lemos pela primeira vez, numa folha fotocopiada… um sonho! Logo a seguir, texto a texto, livro a livro, fomos fazendo o sonho crescer. Lemos “Ciganos”, “Onde tem bruxa tem fada”, “Correspondência”, “Mais com mais dá menos”, “Vida e Obra de Aletrícia depois de Zoroastro”, “ Por parte de Pai “ e, apeteceu-nos ler todos os outros, mais de 31 títulos e de outros tantos ensaios que produziu na sua longa carreira de educador e escritor.
A sua presença este ano nas Andarilhas é a prova da força que ainda têm os sonhos. Bartolomeu Campos de Queirós viveu a sua infância em Papagaio, cidade pequena com gosto a "laranja serra-d'água", no interior de Minas Gerais, antes de se instalar em Belo Horizonte, onde reside e trabalha. O seu interesse pela literatura e pelo ensino da arte fê-lo viajar muito. Conhece as cidades apreciando azulejos e casas pacientemente - um andarilho atento às cores, cheiros, sabores e sentidos que rodeiam as pessoas do lugar, com o mesmo encanto na alma com que observava os rios da Amazónia, dos quais costuma sentir saudades em Minas.
Bartolomeu só faz o que gosta, não cumpre compromissos sociais nem tarefas que não lhe pareçam substanciais. Diz ter fôlego de gato, o que lhe permitiu nascer e morrer várias vezes. "Sou frágil o suficiente para uma palavra me machucar, como sou forte o suficiente para uma palavra me ressuscitar”.
Em 1974 publicou seu primeiro livro, “O peixe e o pássaro”, e desde então vem afirmando o seu estilo de escrita como uma prosa poética da mais alta qualidade. Com formação nas áreas de educação e arte, desde os anos 70, tem tido uma destacada actividade como educador, em vários níveis, contribuindo com importantes projectos para a Secretaria de Estado da Educação e para o Ministério da Educação. Participa do Projecto ProLer, da Biblioteca Nacional, dando conferências e seminários sobre educação, leitura e literatura. Tem 43 livros publicados no Brasil e vários deles traduzidos e editados em outros países. É detentor dos mais importantes prémios literários brasileiros e internacionais, como é o exemplo do Diploma de Honra da IBBY, de Londres. Vários de seus textos foram adaptados para o teatro, entre eles "Ciganos", encenado pelo Grupo Ponto de Partida. A sua obra tem sido tema de teses académicas, em várias universidades brasileiras, nas áreas de literatura e da psicologia."
Nas Palavras Andarilhas de 2006 , foi assim que apresentamos ao público português,Bartolomeu Campos Queirós, uma voz inconfundivel da Literatura para a Infância lusófona.
No dia 16 de Janeiro, a grande senhora veio visitá-lo. Chegou serena e sem pressa. A grande senhora nunca tem pressa. Chegou, segurou-lhe na mão e disse:
- Anda Bartolomeu, do outro lado já te estão esperando! - e ele foi de mansinho, docemente mas inteiro, como tudo o que escreveu na vida, abraçando deslumbrado esta derradeira experiência.
Da sua passagem pelo lado de cá do mundo deixou milhares de páginas da melhor literatura, reflexões sobre esse privilégio maior que é ensinar e aprender.
Da sua passagem por Beja, em 2006 , ficam as palavras inéditas que aqui partilhamos em primeiríssima mão. Um abraço Bartolomeu.
A primeira vez que rumei a Beja, às Palavras Andarilhas, em 2006, tive o prazer de ouvir este senhor. Por total ignorância desconhecia o seu trabalho e a sua obra, até então. Mas não foram precisas muitas palavras para me deixar envolver na musicalidade da sua voz, na profundidade do conteúdo do seu discurso, na forma simples, nua e limpa como abordou as coisas mais complexas da vida e na mestria com que usou a Palavra.
ResponderEliminarFoi inesquecível esta conferência, ainda hoje guardo na memória a estória do "Olho de Vidro", a da "empregada que só falava vogais" ou a descrição de si próprio - "Adoro observar pessoas, por isso estou sempre na janela... quando não estou na janela 'tou no Windows".
Sem dúvida que é alguém que deixou uma grande janela aberta neste pequeno mundo, uma janela aberta a todos aqueles que a quiserem espreitar, espiar, olhar de soslaio, debruçar...
Bem haja,
Bru