quarta-feira, 15 de dezembro de 2010


No Clube, intercalamos a leitura de romances com o conto Léah, de José Rodrigues Miguéis (1901-1980). Um conto escrito em registo de carta imaginária de Carlos, emigrante português na Bélgica, a Léah, por quem se apaixona e que recorda a posteriori. Carlos começa por descrever o ambiente da pensão em que se instala e onde a sua história com Léah se vai desenrolar:  tinha o que quer que fosse de decadente, descuidado e boémio. Sem ser suja, era menos hostilmente asseada que muitas das que até ali eu tinha visitado. Mais à frente, Carlos diz-nos sobre o seu quarto: que as janelas metiam Outono por todas as fendas. O ambiente da pensão está presente em toda a história agravando os sentimentos de solidão e de profunda inquietação: o quarto era espaçoso, eu podia passear à roda da cama, no silêncio do entardecer, roendo-me à vontade por dentro.O tom muda ligeiramente quando Carlos repara em Léah pela primeira vez: a luz das janelas dava-te em cheio na cara, e reparei que eras bonita, nova e séria (...) tu eras boa, Léah, e logo compreendeste que era de amor, embora só talvez à superfície, que eu estava sedento.
Miguéis, José Rodrigues -  Léah e outras histórias. Lisboa: Círculo de Leitores, 1994

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